quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O dano ambiental provocado pelas saibreiras

A atividade de extração de saibro (ver FOTOS ABAIXO), ou lavra de saibro, é uma atividade de altíssimo impacto negativo ao meio ambiente. Seu processo de operação envolve a destruição da cobertura ambiental nativa; corte, destruição e aplainamento de morros; a intensa movimentação da carga; a contaminação do ar nas proximidades do campo de exploração (com risco à população local); a falta de fiscalização do destino da carga de saibro (muitas vezes para aterros ilegais); a erosão e desmoronamento de escostas; a contaminhação, esgotamento ou assoreamento de corpos d'água; o abandono irresponsável dos campos de exploração (o que é propício à grilagens, favelização ou ocupação irregular por condomínios em áreas de proteção ambiental) etc.
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No entorno da baixada de Jacarepaguá, encontramos os Maciços da Pedra Branca e da Tijuca, com diversos níveis de proteção ambiental. Nas suas encostas, que ainda preservam coberturas da Mata Atlântica ou de abundande cobertura vegetal eclética (fruto do processo de reflorestamento da Tijuca), estão as nascentes dos corpos d'água que deságuam no complexo lagunar de Jacarepaguá e nas praias da Restinga da Sernambetiba (Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes). É um interessante ecosistema encravado na Cidade do Rio de Janeiro e que ainda abriga exemplares de animais silvestres como jacaré-do-papo-amarelo, capivaras, lagartos típicos da região de restinga e até espécies que somente são registradas naquela região.
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Desde a década de 1970 as encostas e morros da região, mesmo incluídos em área de proteção ambiental, estão sofrendo processo de desmonte para extração do saibro que serve de aterro e material de construção. O processo desenfreado de ocupação da baixada de Jacarepaguá (Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Vargem Grande e Pequena etc.), com a expansão imobiliária, gerou forte demanda deste material. O governo também foi bom cliente, utilizando-o em obras como o Autódromo, Vila e instalações olímpicas do Panamericano etc.
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Entre batalhas judiciais, concessões de lavras e licenças ambientais contestáveis, omissões ou morosidade de órgãos públicos, as saibreiras provocaram e continuam provocando forte agressão ao meio ambiente e a qualidade de vida na região, além de colaborarem na intensificação de tragédias como a enchente de 1996.
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No ano de 2008 foi irresponsavelmente reativada a saibreira da Estrada do Campo de Areia, entre os bairros do Pechincha e Freguesia, com o beneplácito do DNPM, FEEMA e Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. A mesma saibreira foi objeto, em anos anteriores, de embargo por parte da Prefeitura.
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As fotos abaixo, obtidas pelo GoogleMaps, mostram a agressão das saibreiras ao meio ambiente, com a destruição da cobertura vegetal original e sua perigosa proximidade com áreas habitadas.
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Talvez a reação dos órgãos públicos fosse outra, caso tais saibreiras estivessem situadas na Gávea, nas encostas dos morros do Jardim Botânico, na proximidade do Cosme Velho ou de outros bairros da Zona Sul carioca. Mas o Rio de Janeiro sofre de grave "injustiça ambiental", da "cegueira providencial e excludente" dos Poderes Públicos, que praticam políticas públicas com pesos distintos.
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As fotos abaixo espelham a situação, com alguma defasagem. O dano ambiental já assumiu proporções muito maiores.
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É muito bonito ostentar, da mesa de um bar no Leblon ou na Lapa, um discurso contra o desmatamento da Amazônia ou o avanço da fronteira agropastoril, ou apoiar o Obama e a adesão dos EUA ao Protocolo de Kyoto. Seria interessante que os mesmos atores políticos e sociais transformassem este discurso "global" em uma ação "local" no seu "quintal".

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